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domingo, 21 de novembro de 2010

Carandiru dá espaço a moderna biblioteca pública

Por Fabrício
Foi inaugurada na segunda-feira oito de fevereiro a nova biblioteca pública da cidade de São Paulo. Esta, por si só, já é uma notícia merecedora de aplausos. Mas há detalhes que enobrecem mais ainda este fato. A biblioteca, um projeto inovador idealizado pela Secretaria de Cultura do Estado, foi construída no lugar onde um dia foi o Carandiru, o maior presídio da América Latina e um dos mais violentos que o país já teve.
Nem mesmo os mais otimistas poderiam imaginar que isto pudesse ocorrer. Quem viu a casa de detenção em funcionamento — ainda que por filme ou reportagens — jamais acreditaria que aquilo viria um dia a se tornar um espaço destinado ao aprendizado,  à leitura, à informação e, por que não, ao entretenimento. Hoje, não apenas os otimistas, mas também os incrédulos,  podem conferir com os seus próprios olhos.
A Casa de Detenção do Carandiru ficou conhecida por conta das suas incontáveis rebeliões, grande parte delas marcadas com muito sangue. O episódio mais lembrado por todos foi o massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992, onde, após uma rebelião iniciada no Pavilhão 9, a Polícia Militar do Estado de São Paulo fuzilou 111 (cento e onze) presos sob o pretexto de conter os rebeldes. Parentes das vitímas, no entanto, afirmam que o número de mortos foi bem maior do que o divulgado oficialmente. Este triste capítulo foi narrado pelo médico Drauzio Varella (Luiz Carlos Vasconcelos) em seu livro homônimo que mais tarde se tornou filme. Cabe mencionar que este fato foi determinante para que as autoridades decretassem a extinção do presídio, que foi desativado em 2002.
Mas o lugar não foi palco apenas de trajédias. Revelou, também, grandes talentos, sobretudo, no Rap. O grupo de rap “509-E” é o exemplo mais clássico. Formado pelos então integrantes Afro-X (que um dia foi casado com a cantora Simony) e Dexter, o grupo ganhou notoriedade com suas letras que retratavam o cotidiano por eles ali vivido. Posteriormente (já com os integrantes em liberdade) o grupo foi desfeito e hoje ambos seguem carreira solo no rap.
Hoje, uma nova fase está sendo marcada naquele local através da criação da referida  biblioteca pública, que já nasce sendo referência em modernidade. Na mesma linha das megastores que se espalharam pela cidade e pelo país na última década, o espaço tem tudo o que as grandes lojas oferecem, mas com o diferencial de ser aberto ao público gratuitamente. Segundo os idealizadores, o objetivo e atrair pessoas de todas as classes sociais. Para isto se tornar possível, a biblioteca foi inaugurada com um acervo de 30 mil livros e 4 mil CDs e DVDs, além do acesso livre à internet, jogos eletrônicos, quadrinhos, revistas e jornais nacionais e internacionais. Até mesmo um Kindle, o livro digital da Amazon, estará disponível aos frequentadores para conquistar novos leitores. Além disso, há previsão de investimento de 1 milhão por ano para a renovação e atualização do acervo.
Dos 4.200 m², os jovens serão os donos do pedaço na parte térrea, dividida para três faixas etárias: até 3 anos, de 4 a 11 anos e dos 12 aos 17 anos. No mais, estantes baixas, pufes e poltronas coloridos compõem o cenário. Haverá, ainda, acompanhamento de psicopedagogas.
A contemporaneidade e o conforto não param por aí. Um café e um auditório completam o espaço. Segundo reportagem da revista IstoÉ, a ideia do governo é incentivar e elevar os índices de leitura da população, atraindo as novas gerações — para quem tecnologia é essencial. “Sabemos que quem lê se desenvolve melhor em outras áreas da vida”, disse Adriana Ferrar, gestora do projeto, à revista. De acordo com a gestora, os visitantes e frequentadores encontrarão nas prateleiras desde clássicos de autores como Fernando Pessoa até os blockbusters do mercado editorial como “Crepúsculo” e “Harry Potter”, sem esquecer das tão solicitadas obras espíritas e de autoajuda.
Os portadores de necessidades especiais também poderão usufruir de tudo que a biblioteca tem a oferecer. A estrutura conta com mesas reguláveis de fácil adaptação para cadeiras de rodas, mouses, teclados e telas de computador adaptados. Mil títulos de audiobooks permitirão aos cegos desfrutar do acervo, uma quantidade inédita de opções para esse público. Um scanner que transforma livros convencionais em placas de braile é outro avanço que permitirá um acesso ainda mais amplo à literatura geral. Aqueles que perderam os movimentos das mãos terão à disposição folheadores automáticos de páginas.
Destruir um presídio e construir uma biblioteca no mesmo local é muito mais que uma atitude louvável. É o reconhecimento de que é através do saber, cultura e conhecimento que o país poderá ganhar novos rumos.

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